Aquela Dança
Ele tinha 37 anos e era casado, ela tinha 22 e era solteira. Dançaram juntos naquele casamento.
Ele pergunta por ela aos noivos durante um almoço de famíla. Passaram-se 49 anos mas nunca esqueceu aquela dança. São os dois viúvos.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Ele tinha 37 anos e era casado, ela tinha 22 e era solteira. Dançaram juntos naquele casamento.
Ele pergunta por ela aos noivos durante um almoço de famíla. Passaram-se 49 anos mas nunca esqueceu aquela dança. São os dois viúvos.
Ao crepúsculo um homem fala ao telemóvel dentro de uma cabine telefónica.
Hora de almoço, tarde quente, a rua está quase deserta.
Vejo uma senhora de idade que se aproxima, apetece-me cumprimentá-la mas ela fá-lo primeiro.
Percebo que tem pronúncia alentejana.
Queixa-se que ainda lhe falta muito para chegar a casa, que sentiu uma pontada no peito. Reconforto-a, incentivo que não falta assim tanto.
Quer saber se sou alentejana, digo que não, insiste, diz que tenho algo na minha fala, possivelmente morei lá, continuo a dizer que não, que sou alfacinha de gema e sempre aqui morei, mas ela continua a insistir. Acabo por lhe contar que o meu avô era alentejano, de Campo Maior mas que nunca o conheci, morreu muito antes de eu nascer.
Revelados os meus antecedentes, diz que afinal tinha razão, via-se logo na minha voz. Encontrou uma pseudo-conterrânea e continua o seu caminho feliz.
Sentada numa varanda, num bairro lisboeta que conheço há mais de 40 anos, encontro um novo passatempo, observar turistas.
Vejo entrar para o prédio da frente, onde viviam os vizinhos que conheciamos de cor, com embalagens de cerveja na mão, quatro homens com ar de nórdicos.
E penso, turistas a prepararem-se para emborcar cerveja...oh...very typical.
Afinal a oeste nada de novo.
A gata acorda assarapantada do seu primeiro sono no novo lar. Ao virar-se vê as suas novas amigas, a humana e a felina, a observá-la. Não estava a sonhar. Dá um suspiro profundo e volta a adormecer descansada.
Apesar da sua tenra idade e da sua irracionalidade (dizem os humanos) sabe que chegou a casa.
Tenho um pequeno banco de plástico, cuja única finalidade é a de chegar aos pontos mais altos, onde o meu metro e sessenta e três não me permite chegar.
Lembrei-me de o usar para me sentar frente ao caixote do lixo a descascar batatas e imediatamente fui transportada trinta e muitos anos atrás. E eu já não era eu, era a minha bisavó materna, com oitenta e poucos anos, numa pequena aldeia do Douro a descascar batatas para o almoço da família. E o que tinha à frente não era um caixote de lixo azul mas um velho balde preto para onde caiam as cascas para mais tarde alimentar os animais.
E aquele pequeno e banal banco de plástico onde me sentei, deixou a sua trivialidade e passou a ser um elo de ligação entre o meu eu e as mulheres que me correm no sangue.
À entrada para uma festa um homem pede-nos três minutos para um inquérito. Com tempo e paciência, eu e a minha amiga acedemos.
Na terceira pergunta, questiona se nos pode resumir a Bíblia em dois minutos. Não acreditando que ele consiga aquele feito em 120 segundos e começando a perder a paciência digo-lhe que não, que já conheço a história.
A minha amiga também diz que não, e acrescenta que tirou um curso sobre a Bíblia.
O homem chateado e começando a elevar a voz responde que tem um mestrado naquele tema.
Da minha parte dá-me vontade de gritar que tenho um doutoramento. É mentira mas apetece-me ganhar aquele jogo.
Após um concerto de música barroca um homem transporta um violoncelo às costas e sorri, com um sorriso gozador, para as investidas vãs de três outras pessoas que tentam arrumar um órgão dentro de uma pequena carrinha.
Há sempre alguém pior do que nós.
1 seguidor